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Foto do escritorFabiane Munhoz

Reflexão sobre o dia mundial da conscientização do autismo: os cães não são pílulas mágicas


O Dia Mundial do Autismo é uma data importante para ampliar a conscientização e compreensão sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Certamente, inúmeros especialistas darão suas contribuições para reforçá-la, informar sobre o espectro autista, bem como as indicações de tratamento. O objetivo deste texto é refletir sobre a terapia assistida por animais com


cães como indicação de tratamento ao TEA. Além disso, lembrar dos benefícios, mas também dos equívocos que devem receber atenção. Afinal, não basta apenas saber os benefícios da interação humano-animal (IHA). É necessário saber como promover interações de qualidade, ou seja, positiva para ambos.


Te convido a elaborar um raciocínio junto comigo:


É indicado que profissionais da área da saúde busquem especialização para atender pessoas no TEA, certo?


Ler uma matéria com a manchete “cão da raça Golden Retriever muda a vida de criança autista” não deveria ser suficiente para considerar que todas as crianças sejam beneficiadas com a interação com cães, correto?


Nenhuma condição que demande tratamento relacionada aos transtornos descritos no DSM tem uma receita mágica para cura, não é mesmo?


Antes de seguir quero dizer que o propósito do texto é colaborar com a reflexão acerca da interação entre cães e pessoas autistas. A IHA não faz do cão uma pílula mágica. Precisamos compreender isto a fim de minimizar riscos de acidentes e abandono de cães. Para tanto, vamos considerar alguns aspectos envolvidos, tais como: mídia desinformada, desconhecimento dos profissionais sobre os cães e convivência responsável com esta espécie, Terapia Assistida por Animais e cães de assistência, deslocamento do processo de tratamento para a busca de uma solução rápida, ansiedade da família em apoiar incondicionalmente o ente querido no espectro, entre outros.


Quero desenvolver melhor o último aspecto citado no parágrafo anterior. Nele, mencionei a ansiedade das famílias. É compreensível que ao assistir ou ler uma matéria relacionando o cão a melhora da pessoa autista, como num passe de mágica, pensem ser possível acontecer o mesmo com seu filho, irmão, sobrinho etc. No entanto, não é compreensível, ao menos para mim, que um profissional indique ou até mesmo prescreva a compra ou adoção de cães como Terapia Assistida por Animais, indique a compra de um labrador para ser cão de assistência ou a adoção de um cão pet para melhorar o TEA. Talvez soe como ficção, mas não é. Já escutei muitas histórias com desfechos tristes. Não são todas as famílias que reúnem condições de conviver com um cão de assistência ou mesmo um cão pet, da mesma forma, nem todas as pessoas autistas terão indicação de Terapia Assistida por Animais. Qualquer uma das três situações de envolver uma equipe multidisciplinar para orientar a indicação. Cães não são mágicos, apesar de subjetivamente você ter essa impressão. São seres sencientes que devem conviver em famílias que compreendam e supram suas necessidades enquanto espécie. As famílias precisam saber sobre suas responsabilidades e estarem dispostas a desenvolver vínculo com o cão.


Quero agora falar sobre Terapia Assistida por Animais (TAA), mais especificamente sobre os equívocos que ocorrem na área. Primeiro equívoco: Nem tudo é terapia quando se trata de Intervenção Assistida por Animais (IAA). Por exemplo, a TAA é uma modalidade de atuação da IAA e deve ser conduzida por profissionais da saúde com formação na área. Eles devem conhecer sobre as pessoas e os animais envolvidos. Isso quer dizer que, os responsáveis pela TAA, necessariamente, devem ter conhecimento sobre o público que recebe a TAA e sobre o comportamento animal.


A interação entre humanos e cães, por si só não configura TAA, ela pode promover benefícios terapêuticos, mas não é terapia. Para ser TAA deve ter objetivos claros, definidos e registrados. O profissional precisa saber quais são os motivos de introduzir um cão de IAA no setting. Nesse sentido, cabe também ressaltar que a TAA como modalidade da IAA é uma terapia adjuvante e o cão deve ser selecionado e treinado para o trabalho. O bem-estar do cão não pode ser comprometido em prol do humano, por isso as sessões de TAA devem ser pautadas pelo bem-estar único.


Para finalizar, te convido a não romantizar esse tema. As famílias já têm suas demandas emocionais para lidar. Optar por não se responsabilizar por um cão não é um problema e sim uma conduta assertiva que deve ser respeitada. Essa pessoa escolheu poupar a si de mais uma demanda e um cão de um possível sofrimento.



Com carinho

Fabi



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